domingo, 24 de abril de 2011

As Três Faces de Eva


Hoje finalmente pude ver o filme "As Três Faces de Eva", um clássico da psiquiatria  de 1957. Para quem já viu "Os Demônios de Dorothy Mills", bem mais recente, fica a questão se o último foi completamente inspirado no primeiro, ou se tentou retratar apenas a mesma temática.

Recomendo os dois para todos aqueles que tiveram contato ou têm que lidar diariamente com pessoas que são mais de uma(não me refiro aqui a transtornos bipolares ou qualquer coisa do tipo).

"As Três Faces de Eva" talvez seja o filme mais representativo e documentado sobre o quase desconhecido na época "transtorno de personalidade múltipla". "Patologia" incomum, até hoje não encontra unanimidade no seu reconhecimento devido ao pequeníssimo número de casos no mundo todo.

Registro de um caso real, Eva White(nome fictício) começa a sentir dores de cabeça e lapsos de memória. Durante estes lapsos se manifestava uma segunda personalidade que se auto intitulava Eva Black(também ficitício). Ao contrário de White, que era uma esposa e dona de casa tímida e recatada, Black demonstrava em ser o oposto: altamente sensualizada, ia para festas todas as noites, bebia, fumava e seu intelecto era aguçado, irônico e dominador.
O interessante da dinâmica destas duas é que Eva Black demonstrava saber tudo o que acontecia com Eva White, inclusive seus pensamentos e angústias, mas o contrário não se dava. Outra coisa notável é que Black tinha plena consciência de que se acontecesse algo com White, um dano físico ou estar na prisão por exemplo, ela também sofreria estas mesmas privações.

A situação era tal que, apesar de compartilharem do mesmo corpo, uma se considerava casada e com uma filha, mas a outra não. Uma tinha alergias a certas coisas, mas a outra não, etc.Isto demonstrava uma independência psíquica tão singular que se estendia por vezes ao próprio corpo.

Esta dinâmica continuou assim até que a própria Eva Black(aparentemente a intrusa na história) começou a ter lapsos de memória e perder o controle de  certas coisas. Então descobriu-se mais uma nova personalidade, que adotou espontaneamente para si o nome de Jane(mais um nome fictício).
Diferente de Eva White(a esposa fracassada) e Eva Black(a irresponsável e sensual boêmia), Jane se mostrava compassiva, equilibrada e erudita. Tinha conhecimento da existência das outras duas personalidades, e pelo restante do tempo em que se mostrou manteve boas relações diplomáticas com os médicos e com todas as pessoas com quem convivia à sua volta.

Para resumir, um dia em decorrência de uma hipnose, Eva White morreu. E com ela, Eva Black. 
Sob hipnose, descobriu-se que Eva fora submetida a um trauma quando criança. Era costume que se beijassem os cadáveres de parentes que estivessem sendo velados, e Eva foi obrigada a beijar sua avó falecida no caixão. A divisão de personalidades se deu a partir daí.

A partir desta compreensão, a personalidade chamada Jane se revelou sendo a mais integrada de todas e acabou por reunir todas as lembranças, assumindo o controle.
A partir de então, Eva White e Eva Black nunca mais se manifestaram.

Atualmente nos compêndios de psiquiatria como o DSM IV(Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos       Mentais)  mudou-se de "Transtorno de Múltipla Personalidade" para "Transtorno Dissociativo de Identidade", onde se aponta taxativamente um trauma na infância, preferencialmente um abuso sexual como origem e causa provável desta enfermidade.

Obviamente que em uma perspectiva oculta e espiritual, fazer crianças beijarem cadáveres dificilmente poderia acabar bem, como argumenta o filme "Os Demônios de Dorothy Mills".


Neste filme, aparentemente não baseado em eventos reais mas certamente pesquisado dentro dos parâmetros da psiquiatria e do espiritismo, Dorothy é uma jovem médium que passa a incorporar parentes falecidos e outros bichos, quando é obrigada por sua mãe na infância a beijar os correspondentes cadáveres em um necrotério.
A partir daí, suas características lembram em tudo o transtorno dissociativo de identidade, incluindo o fato de que todas as personalidades(ou entidades) sabiam o que acontecia com ela, mas o contrário não se dava.
O aspecto mais enfatizado aqui é o espiritual em detrimento do psiquiátrico, pois Dorothy é usada por sua comunidade fanaticamente religiosa(pasmem, são Cristãos!) como aparelho para que pudessem falar com seus parentes já mortos.


Como me referi no início, há pessoas que têm que lidar com isto todos os dias, embora algumas abordagens digam que os casos são raros.
Sou uma destas pessoas e conheço alguém muito próximo a mim que apresenta as mesmas características. Às vezes é algo desconcertante e piora muito se você tem qualquer laço afetivo com a pessoa em questão.
A pessoa abaixa a cabeça por alguns segundos e pronto: já é outra coisa que está ali. No caso que me compete há bem mais que três personalidades, e todo um histórico na família de mediunidade e incursões no espiritual. Por outro lado, há sim um trauma na infância que justificaria o diagnóstico de transtorno dissociativo de identidade.
Ou, tudo pode ser a mesma coisa. Enfim, isto é história para desabafo em vários posts...
Fico aqui por hoje.

Para quem por alguma razão se interessar pelo tema(há muita gente passando às escondidas por este problema) deixo os vídeos dos referidos filmes.

As três faces de Eva


Os Demônios de Dorothy Mills




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