domingo, 1 de maio de 2011

O Grande Dragão Vermelho e a Mulher Vestida de Sol


O Grande Dragão Vermelho e a Mulher Vestida de Sol do poeta e pintor inglês William Blake
                
Qual o limite em nosso espírito entre o céu e o inferno? Em que medida uma crença adotada e defendida com garras e sangrias fervorosas pode se transmutar em uma grande besta, um monstro horrendo de dez chifres e sobre estes, dez diademas, o qual irá devorar seu sol interior, eclipsar a pureza e a ingenuidade do mais luminoso espírito, destruir a bondade o equilíbrio e o que ainda há de divino em cada ser?

Em existências tão irregulares e desiguais quanto os padrões digitais dos dedos de uma mão, crenças e instituições que deveriam nos religar à uma fonte de águas cristalinas espirituais, celestes, estas mesmas acabam por ser responsáveis por desembocarmos no mais lodoso pântano, na mais fétida fossa de águas paradas e contaminadas de detritos do que há de mais sujo e asqueroso dentro de nós.

Como reação alguns se levantam como um monstruoso Dragão Vermelho, temido e odioso sim, mas também poderoso, violento e dono de sua própria existência mutilada, através do ódio, rancor, desespero e ferocidade, e, nesta identidade bestial se arremetem contra toda forma pura vestida de sol que esteja em si mesmo, ou em outro ser. 

Eis o inimigo de nossa mulher interior, de nossa luz virginal, das maravilhas celestes dos restos divinos em nós: nossa própria existência destruída e desorientada, fruto de sucessivas decepções e torturas medievais, mortes interiores orquestradas pela diferença entre o que nos fizeram acreditar e o que mostra-se como real. 

Porque nosso instinto demoníaco mais covarde bem o sabe... quando você que é o monstro da história de terror, é bem menor o risco de que algo saia dos cantos escuros para lhe pegar. 



Às vezes adotamos crenças que com o passar de nossas vidas, ao longo de sucessivas construções e reconstruções de nossa existência, acabam por se tornar pedras angulares para nosso ser. Às vezes estas crenças estão suportando tantas coisas que de outra forma não conseguiríamos aguentar, que se fossem extirpadas de nós, todo nosso castelo existencial ruiria abaixo. Nosso ser desabaria sobre si mesmo em uma assustadora e evidente falta de sentido.

As crenças religiosas, por exemplo, podem assumir eventualmente esta função em nossas vidas. Alguém para  quem a vida é um catálogo de erros, um conjunto infinito de angústias e ansiedades, um espaço repleto de ausência de sentido, pode sair com seu carro do ano, parar em um supermercado e encher seu carrinho com produtos que nunca vai precisar. Pode alimentar vícios. Ou preencher isto com uma crença.

Vale dizer e ressaltar: não há porque algumas pessoas rotularem e julgarem esta situação como certa ou errada. A natureza da situação não permite isto. Não há nenhum problema ético envolvido aqui. Trata-se apenas de uma condição existencial que o sujeito adotou para si com toda sua autonomia para fazer escolhas. É legítimo.

Ou seja, se o indivíduo quiser se açoitar até a morte por uma crença, quiser pregar suas mãos e pés em uma cruz, se desfazer de todas suas posses ou qualquer aparente excentricidade, não há nada a ser falado ou a ser feito. Nem deve-se cogitar isto, afinal o indivíduo provavelmente estará se realizando assim, existencialmente estará tentando se completar.

Mas nem sempre é assim. 
Por vezes certas pessoas adotam para si crenças que nada têm a ver consigo. Crenças que contrariam sua história de vida, a construção de sua personalidade, entram em conflito com outras crenças adotadas anteriormente, ou simplesmente com seus instintos naturais, seus talentos mais íntimos, sua própria essência.

O acolhimento de um sistema de crenças nesta situação se dá muitas vezes ferindo frontalmente nosso direito de escolha desde a infância, quando já nascemos em uma cultura e uma sociedade que nos impõe sumariamente os valores de uma religião vigente. Falsa liberdade, falsas escolhas: a criança tem que ser livre para escolher desde cedo suas convicções, desde que meu filho ou filha não vire um pagão, um satanista, um homossexual,...

Se esta imposição não é clara para quem sofre a esclerose de já ter se acostumado com a falácia de liberdade de culto e crença em uma sociedade cujos valores são determinados por religiões segregacionistas e repressoras, imaginem se a situação abaixo seria aceita com naturalidade pelos pais zelosos da educação de seus cordeirinhos:

Qual é o problema? Não defendemos que vivemos em uma sociedade laica com liberdade de crença e culto?


Então crescemos com estes valores impostos por uma correspondente teologia, com seus mitos criacionistas e livros de verdades reveladas, e isto naturalmente fará parte de nossas vidas.
Para muitos acaba se tornando como um objeto estranho que o corpo acabou assimilando para si, um implante cibernético, que embora muitas vezes monstruoso e antinatural, pode ser usado para finalidades práticas, para se sentir forte, e até mesmo para oprimir. Nada mais gostoso do que, ao ouvir ideias incômodas, colocar o dedo no rosto de nosso interlocutor ameaçadoramente e dizer: "mas a Bíblia é clara e  de acordo com ela, o que você diz está errado". Não há nada mais confortável do que "saber" que andamos ao lado da "verdade".

O que nós adotamos como valores é fruto de nossa escolha? Em uma sociedade onde só há isto para ver, realmente escolhemos alguma coisa?

Mas como eu dizia antes, mesmo adotando este recurso para ter algum status de importância no mundo, muitas vezes a essência da pessoa não nem nada a ver com aqueles ensinamentos ou verdades. E aí se formam personalidades bizarras e deformadas que propiciam incidentes hilários ou trágicos, ao gosto do freguês.
Um caso engraçado foi o de um indivíduo que tentava converter meu irmão em praça pública com a Bíblia na mão. Ele dizia fervorosamente: "Sabe qual a razão das desgraças do mundo, meu jovem?! É falta de Deus no coração! É falta de Jesus no coração!!!" Subitamente o religioso pára sua pregação, quase deixa a Bíblia cair por terra e balbucia hipnotizado ao olhar para o lado: "Meu, viu aquela morena que passou ali?...que gostosa..."

Muitas vezes o sistema religioso institucional que dá as diretrizes de como alguém deve viver sua vida é diametralmente oposto à essência ou aptidões naturais do indivíduo

Este tipo de conflito é o mínimo que pode ocorrer. Pessoas que fazem ou sentem necessidades naturais de ser ou fazer coisas completamente contraditórias às verdades reveladas, ainda assim usam estas crenças como uma espécie de expiação, de muleta existencial para suportar suas vidas. Não conseguem perceber o quanto os valores que pratica(quando consegue) são paradoxais em relação ao seu ser, a não ser quando sua vida lhe mostra tragicamente as consequências disto.

Muitas vezes aceita-se a imposição sem questionamentos e tenta-se suprimir a todo custo as inclinações naturais. É o caso dos bons religiosos por exemplo, que simplesmente tentam seguir à risca todos os dogmas, todos os parâmetros, todas as linhas de sua religião. Praticam sinceramente. Tentam não errar como seres humanos. Tentam não pecar.

Tudo o que sua mente, seu corpo e sua alma lhe sinalizam de diferente é controlado abafado ou eliminado com fé e convicção de que, o caminho da retidão é tão estreito e tão cortante quanto o fio de uma navalha. Todo sacrifício é feito com alegria, amor e dedicação. E isto lhes completa realmente. Lhes realiza como seres humanos, afinal escolheram um dos lados. O do bem.

"Estou do lado do bem. E você de que lado está?" (Renato Russo)

Até que...
por algum infeliz fato em sua vida, estas crenças são abaladas em sua estrutura. Por alguma razão é demonstrado que os ídolos e ícones de sua vida espiritual na verdade... tem "pés de barro"(quando não mesmo cascos de bode).

Há muitos motivos para haver decepções acerca de religiões institucionalizadas feitas por homens. Desde fundamentos que vão contra a própria existência do ser humano, até distorções cada vez mais maliciosas de seus seguidores. Pode parecer uma mera crítica intelectual, mas esta questão está entranhada em todo crime cometido em nome destas instituições.

E em nome de Deus...


Padre flagrado fazendo sexo com menor em Alagoas. Já não é novidade, afinal o Vaticano vive às voltas com milhares de processos de pedofilia. Agora imagine que você é um cristão devoto e que um senhor como este tenha sido seu mentor espiritual a vida toda.



"HIPOCRISIA- Quando sua Igreja não permite o controle de natalidade mas fecha os olhos para a pedofilia."


Fanatismo e intolerância. Só acontece na religião alheia? Fazemos coisas bem piores por aqui, basta consultar os jornais.


Charge denunciando a falta de ética e de respeito contra tudo o que é diferente em nome de Deus. "O povo escolhido" está no seu sagrado direito de tratar seu próximo como escória.


Esta é antiga... hoje os métodos estão mais refinados. Alguém discorda que nada mudou?


"oferta voluntária" de R$900,00? "Vitória financeira"? Deles talvez. Quem contribuir "voluntariamente" terá sim uma "derrota financeira" nesta batalha que se diz "espiritual".



Flagrante de crime contra a dignidade humana e contra o direito à própria existência. Casal de gays agredido por homofóbicos. De onde acham que vem o fundamento que sustenta este ódio? "O homossexualismo é uma afronta contra a família, contra as leis de Deus..."blá, blá, blá... Começa aí. Depois a agressão covarde esquece seus próprios motivos. Seus pais assim o fizeram, a assim você fará. É religião. É cultura. É diversão.


E se fosse seu filho? Sua filha? Seu irmão ou sua irmã? Seu parceiro ou parceira? Ninguém precisa se comover com isto. Apenas enxergar que o ser humano é mais importante que qualquer sistema de crenças estabelecido.

Em última instância este ódio vira uma barbárie cega, como verão ao acessar o link abaixo:

http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2011/04/24/transexual-espancada-no-mcdonalds-conta-seu-drama-e-funcionario-que-filmou-e-demitido/


Quando a decepção amarga em relação a tudo o que você acalentou durante uma vida desce pela garganta abaixo, quando você se sente roubado no mais íntimo, a luz da culpa e do esclarecimento cegam seus olhos, e não há para onde fugir da própria vergonha, o ser morre.

Em seu lugar se cria um réptil tão asqueroso quanto forte, tão ofuscado de ódio e violência quanto poderoso.  Forjado no fogo das piras das bruxas, alimentado pelo sangue dos injustiçados em nome de um Deus, animado pela dor dos que clamaram por um alento e em troca receberam uma lâmina rasgando suas entranhas, o psiquismo humano se transmuta no Leviatã, na besta de mil nomes e propagador das mil desgraças. Nos tornamos como o Grande Dragão Vermelho de Blake.

Desta vez o Dragão sobrepujará a Virgem vestida de Sol e não o contrário. Obra de William Blake.

Assim como no romance de Thomas Harris, um ser doentio e reprimido ganha vida para imprimir em todos à sua volta ao menos uma ideia pálida da dor que carrega consigo. 


Também inspirado na pintura de Blake, o maníaco Francis Dolarhyde busca o poder  de um psiquismo reprimido e de uma existência estilhaçada para se tornar a figura mais ameaçadora e apavorante de seu próprio mundo. É na escuridão que ele se levanta e todo sol interior é eclipsado.


Deixo os dois vídeos abaixo da banda Epica, cujas letras geniais são as representantes mais significativas de muito do que foi dissertado até aqui.



Seif Al Din


Cry for The Moon



Cordeiro de Deus, que tirai os pecados do mundo...tende piedade de nós...



terça-feira, 26 de abril de 2011

Candyman. Candyman. Candyman. Candyman. Candyman.








Dificilmente alguém com mais de 20 anos não ouviu esta história em algum lugar: "Fique de frente para um espelho. Contemple-o fixamente. Pronuncie: 'Candyman. Candyman. Candyman. Candyman. Candyman.' ".
Este era o modus operandi para se evocar a figura de Candyman, um negro de aspecto sinistro portando um  gancho no lugar de uma das mãos, e que, como prêmio, com certeza ia arrancar seus intestinos logo após a bem sucedida evocação.

Clássico filme de terror, O Mistério de Candyman, de 1992 conta a história de uma antropóloga chamada Helen Lyle, decidida a investigar uma lenda urbana a todo custo. Esta lenda trata-se de Candyman, um fantasma de um negro escravo que teria sido brutalmente assassinado um século antes por ter se envolvido amorosamente com filha de um senhorio branco.

Esta pobre criatura, que no segundo filme da série sabemos que se chamava Daniel Robitaille, era um artista. Ao pintar um quadro da filha do senhorio, ambos se apaixonaram. Descoberto o romance(e de bônus que ela engravidara dele), foram aplicadas as punições cabíveis a ele segundo os critérios legais da época.

Imobilizado, espancado. Uma de suas mãos fora cortada lentamente com um serrote enferrujado. Em seguida  teve seu corpo todo besuntado de mel de abelhas.Quando estas chegaram, deixaram seu corpo irreconhecível e deformado de ferroadas.




Como no momento de sua morte sua alma teria ficado presa em um espelho, daí o modo de evocá-lo. 

Originalmente a história de Candyman é baseada no conto "The Forbbiden"(O Proibido), do escritor inglês Clive Barker. A quem possa interessar, este conto se encontra em uma coletânea do autor chamada "Livros de Sangue", no volume 5.

Para quem não sabe quem é Clive Barker, basta lembrar de outra série cinematográfica mais que sinistra, fruto também dele: "Hellraiser- Renascido do Inferno".


Acima temos o todo poderoso Pinhead e os Cenobites de Hellraiser. Lindos, não?

Mas o que é mais interessante em Candyman é que ele talvez tenha sido o primeiro filme a estrear o conceito de lenda urbana no cinema.
Quem já não ouviu falar da similar Bloody Mary, ou mesmo da nossa nacional Loira do Banheiro?

Frutos talvez de isolados acontecimentos reais, algumas histórias de nossas cidades acabam por tomar uma proporção exagerada e tomando contornos de um folclore particular aos centros urbanos, ao serem passadas de boca a ouvido, de geração à geração, com cada vez mais acréscimos e exageros. Até chegar ao ponto de ser objeto de uma crença coletiva, despertando ora temor, ora respeito. A existência destes ícones passa a não mais ser questionada.

Mas uma vez que sabemos que é só uma lenda, será sempre uma lenda e nada mais que uma lenda, certo?
Há um grupo de pessoas que sustenta que não é bem assim.

Existem teorias ocultistas contemporâneas que supervalorizam o poder das crenças coletivas. Unindo conhecimentos de parapsicologia, e até mesmo física quântica, estas vertentes tentam explicar e defender que, o fruto de uma crença coletiva pode sim, adquirir status ontológico e interferir na nossa realidade.

É o caso dos adeptos da Magia do Caos, que defendem que qualquer egrégora pode ser evocada, independente de se tratarem de deuses ou não.

Acima sigilo da caosfera e da magia octarina.


Para quem não está acostumado com o termo, egrégora é uma convenção mental. Pode ser particular ou coletiva. Quando é coletiva, é uma crença comum de um grupo ou uma sociedade em um ícone, um arquétipo, onde todos convencionam as mesmas características para aquele arquétipo.
Assim são construídas as características dos deuses de uma religião, por exemplo.

O que os magistas do caos fizeram foi estender essa concepção afirmando que também são egrégoras válidas  ideias coletivas como Papai Noel, por exemplo, ou um herói de uma revista popular mundialmente conhecido como o Super Homem. E mais. Assim como magistas de todos os tempos tentam evocar entidades e invocar deuses, estes personagens também podem ser evocados e invocados, com a preparação ritual apropriada.

Já pensou trazer o Batman, por exemplo, para o círculo mágico de sua sala?





A questão é que esta possibilidade, se existente, também se aplicaria a lendas urbanas como o caso de Candyman. Independente se o fato original aconteceu(no caso de Candyman parece ser pura ficção), a crença e a energia mental dispendida a esta figura quase mítica pode ser um foco para manifestações parapsíquicas.

Pessoas podem sonhar com esta figura, podem ter alucinações com um negro com um gancho. Fenômenos de aparições, objetos que se movem, e até mesmo presenças podem ser sentidas por pessoas mais sensíveis, envolvendo traços da referida lenda urbana. E isto é o mínimo.

Duvidam da capacidade humana de criar efeitos na realidade? O que é o efeito placebo então? Há pessoas que pelo poder de sua crença se curam até mesmo de doenças como câncer. Isto pode ser um ato de fé, de uma pessoa extremamente religiosa, ou um auto engano, quando ela pensa que tomou uma remédio poderosíssimo, mas na verdade deram para ela pílula de farinha(placebo).
Não importa. Em ambos os casos os médicos admitem que a crença da pessoa interferiu positivamente em seu estado fisiológico.
Agora imaginem isto em uma escala coletiva... milhares... milhões acreditando na mesma história, com força de verdade e com um intenso conteúdo emocional...
Bom... deixo às especulações.

Voltando ao filme Candyman 2, mais uma vez Nova Orleans merece um post à parte.
A história se passa durante um dos mais famosos carnavais do mundo: Mardi Gras(terça feira gorda) de Nova Orleans.
As cenas são caracterizadas de um conteúdo pagão intenso, com os indivíduos vagantes e virulentos andando com máscaras zoomórficas por todas às ruas como uma legião de demônios e fantasmas. Muito mais próximas ao Punchinello e à Saturnália do que qualquer outro carnaval.




Enquanto uma bizarra melodia ao piano toca ao fundo, um narrador embriagado de luxúria dá o tom do apocalipse de toda hipocrisia e falsa moral eclipsadas pelo evento:

"Oh, sim. Oh, sim. Oh, sim. Agora estão a me fazer orgulhoso, New Orleans. Nós estamos a comer carne crua. E conto-te o porquê. E não vou para casa até isto acabar. Vou estar em cima o tempo todo. Começa amanhã mes amis, e eu, eu quero algo saboroso."


"O mundo está a mudar, irmãos e irmãs, apressem-se em direção ao amanhã. E eu não sou o homem que costumava ser. Tenho cascos nos meus sapatos e chifres em minha cabeça. Eu quero a vida numa bandeja média rara. E tu podes ficar com os talheres de prata, porque hoje vou comer com as minhas mãos."


"Faltam 29 minutos, New Orleans. 29 minutos até o julgamento. Por isso, embebedem-se, engordem e fodam-se. Sim, tens razão. Eu o digo. Todos vocês podem confiar no Kingfish. Os céus acabaram de nos abrir os bancos do Mississippi e nós estamos prestes a estourar. Eu acho que eles não vão segurar mais. Estão tão cheios quanto a barriga do Kingfish. Sim, Mardi Gras."


Simplesmente fantástico e bizarro. Gera um nível de angústia que só os clássicos do terror podem proporcionar.

A queridinha dos filmes de terror e magia(Nova Orleans) é famosa por seu clima bucólico e misterioso. Considerada um ponto de referência da magia negra na América do Norte, é taxada como o "point" dos praticantes de voodoo. 
Nos romances de Anne Rice foi ambientação para as peripécias da dupla vampira Louis e Lestat, onde é muito bem ambientado. Tem outro principal representante no cinema que é o filme "A Chave Mestra", onde um casal de praticantes de magia negra usurpava o corpo de jovens casais para continuar prolongando sua vida terrena indefinidamente.



Lestat, Louis e família à caça nas ruas de New Orleans em "Entrevista com o Vampiro", de Anne Rice


Protagonista no aperto tentando se proteger de magos negros de New Orleans em "A Chave Mestra"






O interessante em "A Chave Mestra" é que o argumento do filme pode ser resumido em: Acredite nisto e isto será real.

Para mim, o espetáculo à parte em Candyman é a trilha sonora. Tanto no primeiro como no segundo filme, os arranjos de piano levam o expectador para dentro da angústia existencial que precede a morte dos personagens. É uma sensação de que nossa vez está agendada e não há nada que mude isto. Escutem e sintam: é como se alguém houvesse acabado de morrer.









Abraços fúnebres a quem passar por aqui...







domingo, 24 de abril de 2011

As Três Faces de Eva


Hoje finalmente pude ver o filme "As Três Faces de Eva", um clássico da psiquiatria  de 1957. Para quem já viu "Os Demônios de Dorothy Mills", bem mais recente, fica a questão se o último foi completamente inspirado no primeiro, ou se tentou retratar apenas a mesma temática.

Recomendo os dois para todos aqueles que tiveram contato ou têm que lidar diariamente com pessoas que são mais de uma(não me refiro aqui a transtornos bipolares ou qualquer coisa do tipo).

"As Três Faces de Eva" talvez seja o filme mais representativo e documentado sobre o quase desconhecido na época "transtorno de personalidade múltipla". "Patologia" incomum, até hoje não encontra unanimidade no seu reconhecimento devido ao pequeníssimo número de casos no mundo todo.

Registro de um caso real, Eva White(nome fictício) começa a sentir dores de cabeça e lapsos de memória. Durante estes lapsos se manifestava uma segunda personalidade que se auto intitulava Eva Black(também ficitício). Ao contrário de White, que era uma esposa e dona de casa tímida e recatada, Black demonstrava em ser o oposto: altamente sensualizada, ia para festas todas as noites, bebia, fumava e seu intelecto era aguçado, irônico e dominador.
O interessante da dinâmica destas duas é que Eva Black demonstrava saber tudo o que acontecia com Eva White, inclusive seus pensamentos e angústias, mas o contrário não se dava. Outra coisa notável é que Black tinha plena consciência de que se acontecesse algo com White, um dano físico ou estar na prisão por exemplo, ela também sofreria estas mesmas privações.

A situação era tal que, apesar de compartilharem do mesmo corpo, uma se considerava casada e com uma filha, mas a outra não. Uma tinha alergias a certas coisas, mas a outra não, etc.Isto demonstrava uma independência psíquica tão singular que se estendia por vezes ao próprio corpo.

Esta dinâmica continuou assim até que a própria Eva Black(aparentemente a intrusa na história) começou a ter lapsos de memória e perder o controle de  certas coisas. Então descobriu-se mais uma nova personalidade, que adotou espontaneamente para si o nome de Jane(mais um nome fictício).
Diferente de Eva White(a esposa fracassada) e Eva Black(a irresponsável e sensual boêmia), Jane se mostrava compassiva, equilibrada e erudita. Tinha conhecimento da existência das outras duas personalidades, e pelo restante do tempo em que se mostrou manteve boas relações diplomáticas com os médicos e com todas as pessoas com quem convivia à sua volta.

Para resumir, um dia em decorrência de uma hipnose, Eva White morreu. E com ela, Eva Black. 
Sob hipnose, descobriu-se que Eva fora submetida a um trauma quando criança. Era costume que se beijassem os cadáveres de parentes que estivessem sendo velados, e Eva foi obrigada a beijar sua avó falecida no caixão. A divisão de personalidades se deu a partir daí.

A partir desta compreensão, a personalidade chamada Jane se revelou sendo a mais integrada de todas e acabou por reunir todas as lembranças, assumindo o controle.
A partir de então, Eva White e Eva Black nunca mais se manifestaram.

Atualmente nos compêndios de psiquiatria como o DSM IV(Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos       Mentais)  mudou-se de "Transtorno de Múltipla Personalidade" para "Transtorno Dissociativo de Identidade", onde se aponta taxativamente um trauma na infância, preferencialmente um abuso sexual como origem e causa provável desta enfermidade.

Obviamente que em uma perspectiva oculta e espiritual, fazer crianças beijarem cadáveres dificilmente poderia acabar bem, como argumenta o filme "Os Demônios de Dorothy Mills".


Neste filme, aparentemente não baseado em eventos reais mas certamente pesquisado dentro dos parâmetros da psiquiatria e do espiritismo, Dorothy é uma jovem médium que passa a incorporar parentes falecidos e outros bichos, quando é obrigada por sua mãe na infância a beijar os correspondentes cadáveres em um necrotério.
A partir daí, suas características lembram em tudo o transtorno dissociativo de identidade, incluindo o fato de que todas as personalidades(ou entidades) sabiam o que acontecia com ela, mas o contrário não se dava.
O aspecto mais enfatizado aqui é o espiritual em detrimento do psiquiátrico, pois Dorothy é usada por sua comunidade fanaticamente religiosa(pasmem, são Cristãos!) como aparelho para que pudessem falar com seus parentes já mortos.


Como me referi no início, há pessoas que têm que lidar com isto todos os dias, embora algumas abordagens digam que os casos são raros.
Sou uma destas pessoas e conheço alguém muito próximo a mim que apresenta as mesmas características. Às vezes é algo desconcertante e piora muito se você tem qualquer laço afetivo com a pessoa em questão.
A pessoa abaixa a cabeça por alguns segundos e pronto: já é outra coisa que está ali. No caso que me compete há bem mais que três personalidades, e todo um histórico na família de mediunidade e incursões no espiritual. Por outro lado, há sim um trauma na infância que justificaria o diagnóstico de transtorno dissociativo de identidade.
Ou, tudo pode ser a mesma coisa. Enfim, isto é história para desabafo em vários posts...
Fico aqui por hoje.

Para quem por alguma razão se interessar pelo tema(há muita gente passando às escondidas por este problema) deixo os vídeos dos referidos filmes.

As três faces de Eva


Os Demônios de Dorothy Mills




Vamos celebrar a Páscoa e nossos Monstros Culturais!

Recentemente no Orkut de uma amiga encontrei a seguinte proposição:
"Feliz Páscoa para os bons Cristãos e, para todo o resto, feliz dia de ganhar chocolate!"
Kkkkkkk! Isto já tem sua boa dose de ironia.
Mas eu poderia dizer: Vamos celebrar a VINGANÇA DO COELHO!
Pobre símbolo de fertilidade, usurpado de suas raízes culturais mais antigas pelo Cristianismo, que tudo se apropriou para eliminar, destruir, fazer esquecer.
Desta vez foi o antigo ritual pagão de Ostara, a celebração do Equinócio de Primavera. Nesta celebração o coelho era símbolo da fertilidade e os ovos, símbolos da vida que florescia com o advento da primavera.
Com a chegada do Cristianismo, concílios e mais concílios determinaram a descaracterização de tudo o que não conseguiam destruir no paganismo de imediato, e assim esta época agora é a "ressurreição do Cristo".

Não é a toa que tantos demônios se formam por aí. Pensam que os deuses antigos deixaram de existir por isto?
Eles se ocultam nas trevas, assumem outras funções e sorrateiramente camuflados em auréolas cristãs aguardam o momento de se vingar de todos seus algozes, e filhos de seus filhos... 
Lilith que o diga...
E é claro que não podia ser diferente com nosso outrora fofo símbolo de fertilidade. Vejam flagrantes despercebidos de suas maquinações e o olhar de ódio da criatura:

 Aqui percebemos que ele mal pode esperar para libertar sua revolta, mas ele dissimula... 
Mas isto não durou por muito tempo como vêem abaixo:


Pobre mutante cultural vítima de uma egrégora dominadora e imposta que o espoliou de todas as suas raízes. Espero que depois de devorar todas estas criancinhas ele encontre finalmente a paz...

E viva aos deuses antigos...he, he, he...

sábado, 23 de abril de 2011

Ainda fazendo algumas malas e preparando a nova casa...

Ainda estou aprendendo a lidar com isto aqui. Espero logo deixar este novo quarto habitável. por enquanto vou apenas mexendo...